26 dezembro, 2013

Rogério Cardoso Pires

Conhecemos o trabalho de Rogério Cardoso Pires por acaso. No verão vimo-lo tocar numa capela. A sua presença era um dos pontos de um percurso maior por várias capelas de Viseu e esse percurso por sua vez fazia parte de outro percurso ainda maior que distribuía vários palcos por toda a cidade, eram os Palcos Livres. Nós escolhemos estar naquela capela e foi um encontro feliz. Muito embora a música na rua dificultasse o seu trabalho lá dentro, foi sempre encarado com humor e competência. A delicadeza das suas melodias e palavras criavam o resto do ambiente.
Descrevemos este encontro por ser o primeiro. Foi lá que nos apaixonámos pela sua música e não resistimos a fazer o convite. "O Musiquim é este projecto que...", mas era meia-noite, o cansaço pesava e no dia seguinte partia-se cedo. Não seria desta, mas fico prometido.
Passaram meses.
Era domingo, dia de almoço de família, quando recebemos um telefonema. Era o Rogério. Estava por Viseu e com tempo, se a nossa disponibilidade condissesse podíamos conversar um pouco e filmar. Inventámos disponibilidade e lá fomos, ou melhor, fui, que nesse dia a sorte de inventar tempo não sobrou para todos.
Encontrámo-nos no centro de uma cidade contagiada pelo espírito natalício. As ruas cheias agradeciam o bom tempo, estava céu azul e por alguns minutos foi difícil circular entre as barracas de artesanato tradicional, a exibição de carros antigos, o presépio e a música em mono. Tomámos um café. Conversámos um pouco sobre um pouco de tudo e saímos dali para ruas mais calmas. E foram ruas muito calmas aquelas que descobrimos a poucos minutos do frenesim do centro. Encantou-nos uma rua cujo o muro estava repleto de manchas brancas, certamente graffitis censurados, embora pudesse ser também algum artista modernista inspirado no trabalho do russo Malevich. De qualquer modo, era aquele o local para se fazer outro tipo de arte.
O Rogério tirou a guitarra, sentou-se e tocou alguns acordes. Tocou mais um pouco e disse, "pode ser aqui". Foi ali que durante uns minutos a música deste guitarrista escreveu um novo capítulo à Rua Conselheiro Sousa Macedo. São delicados os temas que nos trouxe. Muito embora passe grande parte da sua vida musical acompanhando outros artistas que respeita, como Zeca Medeiros e João Afonso, Rogério Cardoso Pires é por si só um artista de pleno direito. Já a sua humildade e perfeccionismo faz-no pensar duas vezes: "Podemos repetir este último tema? Acho que podia ficar melhor". Repetimos uma e outra vez sem que dissemos nada. Escutar aqueles melodias transporta-nos para outro sítio. Quando dava por isso já o plano de filmagem estava completamente desenquadrado. Depois começou a anoitecer.
O frio levou-nos de volta ao Conservatório de Música onde ensaiavam alguns dos seus amigos. Despedimo-nos com um até breve
Normalmente diríamos que para conhecer um pouco mais sobre o trabalho deste guitarrista licenciado em filosofia deveriam dirigir-se à sua página online, como Rogério Cardoso Pires não tem nenhuma, recomendamos ver estes vídeos em loop.

ou no Youtube: Ilha Terceira | Depois da Chuva