10 agosto, 2015

Benjamim à varanda

Talvez a maioria ainda conheça Benjamim da altura em que terminava em N. Cantava em inglês, dava pelo nome de Walter Benjamin e foi ganhando um espaço especial no coração dos ouvintes ao lançar três trabalhos, todos eles bem recebidos.

Agora, depois de quatro anos em Inglaterra e há dois em Portugal, Luís Nunes abandonou o inglês para cantar na sua língua materna. Afinal é com ela que nos expressamos melhor quando falamos do nosso país. O novo álbum do Benjamim que já não é Walter, é precisamente disso que fala. Deste país. E que melhor forma de o apresentar que viajando por este pais, de norte a sul, em trinta e três dias tocando em cada um deles num sítio diferente? Foi isso que fez.

Ao vigésimo quinto dia de viagem ele, António Vasconcelos Dias que toca bateria e teclados nesta tour; Manuel San Payo, responsável pelo som e Gonçalo Pôla que faz o registo fotográfico e de vídeo, chegaram a Viseu na sua velhinha Volkswagen. Ou melhor, três deles. O Manuel já não cabia na carrinha e faz o acompanhamento no seu automóvel, da mesma maneira que cada ciclista tem o seu carro de apoio.

O Manuel é um bom rapaz. A sua boa disposição não se destaca dos restantes, é tudo boa gente, mas o seu espirito competitivo sim. Afinal foi ele a desafiar o Luís para uma corrida, logo a seguir ao lanche em plena avenida. “Até àquele sinal além”. Era a sinalética de uma passadeira. Ora o vocalista não descartou o desafio. Fincaram os pés no chão, puseram-se a postos e lá foram eles. Nem dez metros e já o cantautor ganhava vantagem. Cinquenta metros depois o Manuel deitava a mão a tentar empurrar o músico mas sem sucesso. Perdeu.

Só porque o Manuel perdeu um desafio a coisa não se ficou por aqui. Depois de jantar – parece até que se corre melhor depois das refeições – o técnico de som voltou a desafiar, mas desta feita o desafiado foi o baterista, António. O António não hesitou e em poucos segundos estava em posição de partida. O cenário era agora a Praça da República. O Manuel não queria repetir os erros da tarde e apertava os atacadores. A culpa da primeira derrota teve muito a ver com as sapatilhas. Apertou os atacadores durante mais dois minutos e quando finalmente começaram a correr nem vinte metros foram precisos para que uma sapatilha voasse. Era a do Manuel. Sem dúvida algo se passava com os seus atacadores.

Mais três minutos a apertar as atacas para que se retomasse a partida. Apertaram-se. Correram e o Manuel voltou a perder. Perdeu a partida mas não a boa disposição. Ainda bem, é que faltavam poucos minutos para o início do concerto e nada melhor que alguns sorrisos para espantar o nervosinho.

“É a primeira vez que vou tocar numa varanda”, disse Luís. “Já estive menos nervoso”. Olhou em redor, confirmou a afinação e avançou para a varanda do Hotel Avenida, a mesma de onde o general Humberto Delgado anunciara a sua candidatura a presidente da república. Lá em baixo meia centena de pessoas esperavam pacientemente para o ouvir. O concerto, antes da aconchegante sala no interior do hotel, começava naquela magnífica varanda. Tocou “O Quinito Foi Para a Guiné” e continuou com o single “Os Teus Passos” antes de convidar todos a subirem. Arrancou aplausos das duas vezes.

Já no interior do Hotel, que nos últimos meses tem feito uma aposta forte na cultura em Viseu, Benjamim deu início a um concerto hipnotizante. A plateia estava repleta com gente de todas as idades que se espalhavam pelo chão em almofadas e pelo varandim.

As canções de Benjamim foram uma viagem pelo seu Portugal, o nosso também e só podia terminar com um forte aplauso e a vontade que dias assim se repitam outras vezes.

Para acompanhar o trabalho do cantautor podem fazê-lo no seu facebook.


ou no Vimeo: Os Teus Passos